Sociedades Multiculturais

Este espaço pretende dar a conhecer o percurso académico do Educador Socioprofissional e a consequente aplicação prática na área da Acção Social.
Foi criado no âmbito da Unidade Curricular de Técnicas de Animação de Grupo do 2º ano do Curso de Educação Socioprofissional da Escola Superior de Educação Jean Piaget - Arcozelo, do Campus Académico de Vila Nova de Gaia, sob a orientação do Master Carlos Jorge De Sá Pinto Correia .Atualmente é desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular Métodos II, sob a orientação da Doutora Maria Orquídea.

Comunicação Interpessoal


Comunicação Interpessoal


        Comunicação é a arte de ser entendido.
(Peter Ustinov)
O termo comunicação vem do grego “comunicare” que significa “pôr em comum”, “entrar em relação com…” (Carrera, 2012).
Para Carrera (2012) a comunicação é um dos processos indispensáveis e constitui a base de todas as atividades humanas. Ela cumpre a função de informar, socializar, distrair, educar e motivar. A comunicação pode ser entendida como uma ferramenta fundamental para o ser humano pois permite-lhe ser o que ele é e estabelecer relações interpessoais, por isso é um processo interativo e pluridimensional.

Tal como foi evidenciado anteriormente, o processo de comunicação é fundamental para poder existir sociedade e também imprescindível para que as organizações possam alcançar os objetivos a que se propõem. Deste modo é importante que a comunicação propicie um ambiente de trabalho harmônico, onde os indivíduos possam entender-se e compartilhar as informações disseminadas no âmbito da organização. Estudos empíricos revelam que a comunicação eficaz contribui para o sucesso gestionário e organizacional.

Segundo Monteiro (2007, p.5), a comunicação interpessoal pode ser definida como “ um processo onde a troca de informações permite que duas ou mais pessoas comuniquem de forma interativa, face-a-face (proximidade física), oral e direta, de modo a criar uma relação.”

Watzlawick, Beavin e Jackson propõem uma análise da comunicação, assente em “princípios sistémicos”. Para estes autores, o ato de comunicar é social e obriga necessariamente a uma relação. Os comportamentos que as pessoas assumem quando estabelecem uma relação, estão condicionados pelas regras de interação que cada sujeito adquire. Assim, estes autores propõem cinco axiomas básicos:

“1. As pessoas não podem deixar de comunicar. Sempre que o ser humano estabelece interação, o comportamento que adquire, obrigatoriamente, tem uma mensagem. Mesmo que não exista intenção, a mensagem está presente. No próprio facto de tentar não comunicar, está presente a comunicação, ou seja, a tentativa de não interação é uma interação.

2. Toda a comunicação apresenta conteúdo e relação. Conteúdo surge neste contexto como a mensagem que é apresentada à outra pessoa. A relação define o contexto em que a mensagem é realizada. Esta interação entre conteúdo e relação entende-se por metacomunicação. Este conceito surge de forma a definir a troca de informação não-verbal, que existe em simultâneo entre sujeitos.

3. A pontuação das sequências de comunicação. A comunicação deve utilizar sequências de interação de forma pontuada, ou seja, a interação deve ser realizada, não em atos isolados, mas sim agrupados sintaticamente de forma a terem sentido. Os conflitos surgem, por vezes, devido à falta de concordância entre os sujeitos em relação à pontuação da sequência dos factos.

4. Comunicação digital e analógica. Esta distinção entre digital e analógico refere-se ao tipo de codificação utilizada na comunicação. Quando referimos a codificação digital, estamos perante uma arbitrariedade na relação significado e significante, ou seja o signo digital é utilizado para representar um referente que não tem relação intrínseca com o signo. Quando referimos codificação analógica está associada à representação por semelhança. O código analógico é muito diferente dos signos digitais, pois não é arbitrário, ou se assemelha ou é intrínseco.

5. Diferença entre simétrico e complementar. A comunicação é simétrica quando as duas pessoas que estão a comunicar, têm um comportamento muito semelhante na relação. O contrário, quando existem bastantes diferenças diz-se que a relação é complementar.” (Monteiro, 2007, p.6-7)

Existem vários tipos de comunicação: os indivíduos podem comunicar pelo código morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, por fax, por modem etc. No caso específico de uma organização, a direção pode comunicar com os seus membros através de circulares, cartazes, mensagens radiofónicas ou televisionadas, email, etc. 

Firmino (2012) defende que toda a comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem, sendo que a linguagem usada pode ser verbal e/ou não verbal. A comunicação verbal exterioriza o ser social e pode ser definida como uma mensagem expressa que possui um código linguístico (oral ou escrito). A comunicação verbal falada ocorre quando há diálogo entre duas ou mais pessoas. A comunicação verbal escrita engloba os livros, jornais, cartazes, revistas, entre outros.

Tal como afirma Carrera (2012) A comunicação não-verbal exterioriza o ser psicológico, sendo a sua principal função a demonstração de sentimentos. Ela corresponde às mensagens que são transmitidas através de gestos, sons, expressões faciais, posturas corporais, tonalidade da voz, silêncios, entre outros. De acordo com um estudo da Universidade de Berkeley, na Califórnia, as palavras representam apenas 7% da comunicação e a linguagem não-verbal corresponde a mais de 90%. A última é comandada pelo subconsciente. Deste modo, não só deve ter-se cuidado com a mensagem que é veiculada, mas também com o modo como a informação é comunicada (linguagem não verbal).

Segundo Carrera (2012), para que a comunicação seja eficaz o emissor antes de comunicar deve questionar-se sobre A quem se dirige? O que quer comunicar? Que meio vai utilizar? Quando o fará? Por que razão o faz? Como irá garantir o feedback? Estas afirmações têm implícito que a comunicação implica um emissor e um recetor, uma mensagem, um canal e uma relação entre emissor e recetor.

Tal como afirma Firmino (2012 p.8) toda a comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem constituindo-se por elementos que são indicados no esquema que explica o processo de comunicação:




Assim, os elementos da comunicação são: o emissor é aquele que emite a mensagem. Ele pode ser um individuo ou um grupo. O recetor é aquele que recebe a mensagem e pode também ser um individuo ou um grupo. A mensagem pode ser considerada como o objeto da comunicação. Ela é composta pelo conteúdo das informações transmitidas, conscientes, sendo que qualquer mensagem envolve sempre uma percentagem de ruido. O canal de comunicação é a via de circulação das mensagens. O código é um conjunto de signos e regras de combinação destes signos; o emissor utiliza-o para elaborar a sua mensagem (codificação) e o recetor identificará este sistema de signos (descodificação) se o seu reportório for comum ao do emissor. O referente é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetivos reais os quais a mensagem remete.
 
                              

 
    

         Em qualquer processo de comunicação é natural que surjam algumas barreiras, mas identificá-las e eliminá-las não é tarefa fácil, por isso, requer atenção e uma abordagem clara do modo como o individuo transmite a informação. 

Segundo Firmino (2012) as barreiras à comunicação podem considerar-se obstáculos que dificultam a emissão e/ou receção de mensagens e podem também ser apontadas a diferentes níveis, tais como:
Emissor - estudo do recetor e o seu estado psicológico
               - Preparação da mensagem
               - Adequação da linguagem ao recetor
               - Congruência da mensagem
Recetor - capacidade limitadas de retenção
                 - Barreiras físicas, pessoais e semânticas
Mensagem - codificação (emissor)
                    - Descodificação (recetor)
Canal – acrescentos, eliminações, distorções

O autor supra citado defende que os “ruídos”, ou seja, as perturbações que podem ocorrer no transcurso da comunicação oral podem ser de origem:
- Física (verdadeiros barulhos, voz muito baixa, fala muito rápida)
- Linguística (dificuldades de descodificação por parte do recetor)
- Psicológica (falta de atenção, interferência de elementos passionais, etc.)

Um outro elemento fundamental que completa o sistema de comunicação e que visa a diminuição do ruído é o “feedback”. Este é composto por um conjunto de sinais perceptíveis que permitem perceber o resultado da emissão da mensagem: se foi recebida ou não, compreendida ou não. Deve manter-se a atenção sobre estes sinais antes e durante o diálogo.

         Assim, para que a comunicação se desenvolva de maneira natural, transparente e positiva é importante verificar se a informação que o recetor recebe está a ser compreendida e se a aplicação do feedback no processo de comunicação está a ser correta, sem nunca esquecer aquele que é o recetor da nossa mensagem.



Referências Bibliográficas:

Carrera, F. (2012) Comunicar 2.0-Arte de Bem Comunicar no Seculo XXI, Lisboa. Edições Silabo

Firmino, M. (2012) Competências Pessoais e Interpessoais. Porto: F.E.U.P

Monteiro, R.M. P. (2007). Teoria e Modelos de Comunicação Educativa: Comunicação Interpessoal em Contexto Educativo. Braga: Tese apresentada ao Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.

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